Não há mais nenhum videojogo que me faça saltar do sofá aos gritos como um golo que dá a vitória no Fifa, apontado em casa do maior rival, em período de descontos. É essa a magia de Fifa 10, faz-nos sentir que estamos lá, que o jogo é a doer e que temos que dar tudo para o vencer. Para chegar ao golo no Fifa 10 é preciso batalhar muito, ganhar no confronto físico com o adversário, abrir uma linha de passe, ser rápido na antecipação, simular, enganar o guarda-redes, rematar certeiro e ter um bocadinho de sorte.
Realismo é a palavra chave quando se fala da jogabilidade de Fifa 10. Pela primeira vez os jogadores podem mover-se em qualquer direcção, em vez das 8 tradicionais. Esta novidade liberta os jogadores para movimentos nunca antes vistos. A física da bola é completamente independente e roça a perfeição. Isto possibilita um número infinito de jogadas e faz com que cada jogo seja uma história completamente nova.
Mesmo sem a bola nos pés, o jogo é emocionante e cada vez mais real. Os jogadores disputam as posições corpo a corpo e tentam proteger a bola ou desequilibrar o adversário. O futebol é um jogo de contacto e Fifa 10 retrata esse facto da melhor maneira até à data.
Os guarda-redes também estão mais inteligentes e são cada vez mais reais. Há um sentido de urgência adicional que leva os jogadores a despachar a bola de qualquer maneira em situações apertadas. Pode ser um murro na bola do guarda-redes ou um pontapé desesperado de um defesa quando está prestes a ser ultrapassado pelo atacante. Estes comportamentos tornam os jogadores mais humanos e o jogo mais emocionante.
Em Fifa 08 o árbitro era invisível, surgindo apenas para dar cartões. O ano passado foi inserido no jogo e este ano tem ainda mais destaque. Sem ser preciso recorrer a mudanças de câmara, o árbitro apita, avisa os jogadores e dá cartões. Ocasionalmente a bola acerta mesmo no juiz e muda de trajectória.
O modo Be a Pro continua a evoluir e agora chama-se Profissional Virtual. Neste modo juntamos um pouco de RPG ao jogo e temos que criar um jogador e leva-lo até ao topo. Durante os jogos controlamos apenas o nosso jogador, o que muda completamente a jogabilidade. Na minha opinião muito pessoal, o jogo torna-se uma valente seca! Não é que esteja mal feito, mas estar a ver 21 jogadores controlados pela PlayStation e só ter 1 sob nosso controlo significa que temos poucas oportunidades de tomar conta do jogo. E ainda por cima não é nada fácil jogar com a visão do campo que segue o nosso futebolista.
Podemos importar a nossa cara para dentro do Fifa e desenvolver as capacidades do nosso personagem em qualquer modo de jogo. Para culminar, podemos jogar online e exibir o nosso profissional frente aos nossos amigos.
No modo treinador temos a possibilidade de controlar a nossa equipa, dentro e fora dos relvados, ao longo de várias épocas. Aqui está a verdadeira essência do jogo, pelo menos na vertente singleplayer. O objectivo é ganhar competições para conseguir dinheiro para reforçar a equipa e… ganhar mais competições. Infelizmente estamos apenas a disputar a liga e a taça, as competições europeias ficaram de fora.
O aspecto financeiro é muito importante e podemos gerir patrocinadores, bilheteira, transferências, ordenados, prémios de jogo, etc… Apesar da profundidade deste modo não se poder comparar ao que se encontra em jogos como Football Manager, está no ponto certo para tornar a carreira mais emocionante sem afastar o foco do jogo propriamente dito.
O mercado de transferências está mais "inteligente", o que pode ser uma grande dor de cabeça para um treinador à procura de reforços. Se o jogador alvo achar que não vai ter lugar no plantel, recusa a transferência. Por outro lado, se achar que é bom demais para integrar a nossa equipa, também não aceita qualquer proposta. A busca pelo jogador certo pode tornar-se frustrante e o mais fácil é colocar os olheiros à procura de talentos disponíveis nos quatro cantos do mundo.
A carreira de treinador de futebol não é fácil e o lugar nunca está seguro. Quando os resultados não são os esperados, acontece a clássica chicotada psicológica. Mesmo assim parece-me exagerado ter sido despedido do Sporting a meio da época, quando ocupava o segundo lugar, a apenas 3 pontos do Guimarães que liderava a tabela. Algo que Fifa ainda não aprendeu a fazer é simular uma liga com resultados credíveis. Depois de 14 jogos, o Benfica estava em 7º, a uma grande distância da luta pelo título. Por muito que essa ideia me agrade, tenho que reconhecer que este ano não é concebível. Quando os grandes ficam logo afastados da luta pelo título, o jogo perde algum sentido.
A saída forçada do meu clube do coração levou-me a pegar num pequeno clube irlandês, que lutava para não descer de divisão. Nos relvados irlandeses, sob chuva intensa, o jogo transforma-se e temos que substituir a força da técnica pela técnica da força. As peripécias do modo treinador levam-nos a explorar ligas e clubes que de outro modo nos seriam desconhecidos. O caminho até ao reconhecimento mundial é longo e árduo!
A nível de gráficos este Fifa não traz nada de novo. A principal preocupação foi melhorar a fluidez do motor de jogo em todas as situações e não houve lugar a grandes melhorias visuais. O modo Arena, em que podíamos controlar um jogador e fazer remates à baliza enquanto o jogo carregava, foi melhorado. Agora há uma série de opções e a arena é um campo de treinos completo. Podemos até criar jogadas estudadas para aplicar durante os jogos.
O elemento que mais nos desiludiu foram os comentários. Helder Contudo e David Carvalho voltam a dar as vozes ao jogo, mas parece que não se lembraram de nada de novo para dizer. É natural que os comentários se tornem repetitivos ao fim de algum tempo, mas neste caso isso acontece desde o primeiro minuto, porque muitas frases são exactamente iguais ao que podemos ouvir em Fifa 09.
Mais grave que isso são as disparidades entre os comentários e o que se está a passar em campo. Cantos passam a lançamentos laterais com frequência, jogos de campeonato ganham prolongamento em caso de empate e um ligeiro atraso no relato causa situações verdadeiramente caricatas.
Quem gosta de fazer noitadas com os amigos à volta da PlayStation vai gostar de saber que o modo festa grava as pontuações de 20 jogadores numa liga criada para o efeito. Assim pode ser que acabem as discussões sobre quem é o melhor jogador de Fifa. Como alternativa temos uma série de modos online que garantem que ninguém tem que jogar Fifa 10 sozinho.
Fernando Amaral é o autor de vários sites sobre videojogos como: Jogos de Motas, Jogos de Cozinhar e Jogos PlayStation.
O jogo está cada vez mais real e Fifa 10 não tem rival neste momento.